Passei a minha infância numa cidadezinha paranaense chamada Terra Rica. Lá, recordo bem que, nos intervalos das aulas na escola, mesmo mantendo um bom relacionamento com os colegas de classe, de vez em quando preferia seguir direto para a biblioteca a fim de aproveitar esse tempo lendo os jornais do dia.
E ao retornar para casa, era comum eu ficar horas folheando volumes das duas enciclopédias que tínhamos na estante. Adorava passar os olhos nas páginas daqueles livrões de conhecimentos gerais tentando encontrar alguma coisa que pudesse aprender. E algo não me saía da cabeça: que tipo de gente organiza esse conhecimento todo?
De lá para cá muita coisa mudou. Quando o arquiteto e visionário norte-americano Buckminster Fuller previu que o conhecimento da humanidade duplicaria exponencialmente neste início de século XXI numa escala sem precedentes, ele não estava errado. Com as novas tecnologias, todo o conhecimento disponível já dobra a cada doze meses e o ritmo vai acelerar ainda mais. Resultado: as enciclopédias perderam seu espaço – até mesmo a Britannica, a mais tradicional delas, já não é impressa há sete anos.
Excesso de informação
Diferentemente daquilo que vivenciamos décadas atrás, o problema já não é ter acesso a informação. É saber separar a informação útil e/ou verdadeira daquela irrelevante e/ou falsa. Fazer boas escolhas diante de um catálogo infindável de conteúdos.
Vamos supor que seu interesse atual seja o tema desenvolvimento de liderança. Ao chegar a uma livraria, com dezenas de títulos à sua frente, logo surge a dúvida: por onde começar? E infelizmente é quase certo que não haverá ninguém por perto para ajudá-lo, já que o vendedor não leu nenhum deles e só sabe dizer quais títulos vendem mais.
Neste mundo de excessos, um personagem será cada vez mais presente em nosso dia a dia a partir de agora: o curador de conhecimento. Aquela pessoa que tem a capacidade de ajudá-lo a encurtar o caminho até o tipo de aprendizado que realmente pode transformar a sua vida, como prega uma das empresas que atua nesse mercado.
Encurtando caminhos
Quem vai a uma exposição e tem uma experiência marcante por lá, pode não saber, mas a sua jornada de descoberta foi guiada por um curador. Ele que ficou com a responsabilidade de conceber, montar e revisar o catálogo das obras exibidas. Ou seja, escolheu os artistas, quadros e pinturas que fazem parte do acervo e onde cada um deveria ficar.
Em congressos internacionais de gestão essa figura também já é presente. As pessoas chegam com dúvidas sobre quais palestras assistir em meio às dezenas de apresentações ofertadas e curadores têm sido contratados para aconselhar os participantes de modo customizado sobre o que vale a pena ver.
Algo muito semelhante às recomendações de filmes que a Netflix faz para você depois de algum tempo navegando na plataforma. Aliás, o sistema de inteligência artificial da empresa melhorou substancialmente nos últimos dois anos a ponto de eu ficar com a sensação de que existe um ser humano lá só pensando nas dicas de filme que se encaixam com meus interesses.
Mas a maior parte dos curadores serão vistos mesmo dentro das salas de aula, substituindo professores tradicionais. Já que as pessoas aprenderão conteúdos em qualquer lugar e direto de seus smartphones, as aulas presenciais serão necessárias para se esclarecer dúvidas e não mais para apreciar sábios no palco. Este futuro já está a caminho.
Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Líder tático” e “O gerente intermediário”, ambos publicados pela Ed. Qualitymark.