Boa parte dos 300 colaboradores da indústria não apreciava o cardápio do restaurante interno e, por isso, era cada vez mais comum encontrar pelos corredores da empresa pessoas com suas marmitas trazidas de casa.
E como o descontentamento só aumentava, o diretor geral da companhia tomou uma ousada decisão: a partir dali serviria filé mignon todos os dias como forma de demonstrar aos funcionários que a firma se importava com eles.
Quando a notícia foi dada, todos ficaram eufóricos e até a imprensa da cidade produziu uma matéria contando a iniciativa da empresa. Nas duas semanas seguintes a animação continuou e tudo parecia caminhar bem, especialmente porque o cozinheiro diversificava o cardápio. Em um dia servia filé grelhado, no outro ao molho, depois assado e assim por diante.
Contudo, quarenta dias depois alguns ruídos começaram a surgir timidamente. Em três meses as reclamações já ressoavam pela companhia. “Tô enjoado de tanto filé mignon!”, “Cadê o frango?” e “O restaurante devia variar um pouco”. Logo as marmitas trazidas de casa voltaram a aparecer…
Além disso, novos questionamentos surgiram com força suficiente para tumultuar o clima. “Se a direção tem dinheiro pra servir filé todo dia, então por que não aumenta nosso salário?”, alguns diziam. Enquanto outros esbravejavam: “Carne eu como na minha casa. Eu quero é dinheiro no bolso!”
Como a cada dia as reclamações só aumentavam, o diretor resolveu, a contragosto, cortar o filé mignon do cardápio e reativar os mesmos pratos que meses atrás eram questionados por todo mundo. E acredite: as pessoas ficaram felizes com a decisão.
O que essa história nos ensina é que dificilmente você atenderá as expectativas dos seus colaboradores sem, antes de mais nada, escutá-los com interesse genuíno. Compreender as questões-chave sob a perspectiva deles.
Dentro da lógica do diretor, servir filé mignon era a forma mais adequada de melhorar o cardápio e, principalmente, demonstrar aos colaboradores que a empresa os ouvia. Porém, ele não investiu tempo no processo de escuta pelo equívoco de acreditar que já possuía a resposta.
No fundo, em vez de se colocar no lugar das pessoas, pensou em como gostaria que a empresa agisse se ele mesmo passasse por uma situação parecida.
Se você quer derrubar boa parte das insatisfações que a sua equipe apresenta ou então demonstrar sua gratidão pelos bons serviços prestados por ela, não há outra saída: é preciso escutar as pessoas com interesse genuíno e deixar de lado qualquer impressão prévia acerca daquilo que “acha” que elas querem.
Aliás, depois de escutá-las talvez você perceba que não precisa fazer mais nada. É só isso que elas esperavam de você.
Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Líder tático” e “O gerente intermediário”, ambos publicados pela Ed. Qualitymark.