Todos precisamos de uma dose de insensatez

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Uma parábola bíblica contada por Jesus lembra que certo homem possuía algumas sementes e, ao caminhar, espalhou-as por onde passava. O terreno seco nem absorveu os grãos recebidos e as aves vieram e comeram-nas. Outra parte caiu em meio a pedras, onde não havia muita terra, o que as fez brotar depressa, mas por não terem raízes, secaram rápido. Algumas delas foram jogadas entre espinhos, que cresceram e sufocaram as plantas. E as poucas que foram semeadas em terra fértil, produziram muitos frutos.

Geralmente, essa conhecida história é utilizada para nos fazer refletir sobre que tipo de semente somos nós. Hoje quero abordar a questão sob a perspectiva de quando somos os semeadores. E o grande ensinamento que a parábola nos traz é que, para obter frutos, precisamos ser insensatos de vez em quando.

Semear em terra seca, pedregosa ou com espinhos não é nada produtivo e todos sabemos disso. Mas se você não estiver aberto para lidar com o desperdício, dificilmente chegará longe. É o caso de quem envia mala direta pelos correios aos clientes: para que 3% das pessoas façam negócios com a sua empresa é necessário estar disposto a gastar os outros 97% “inutilmente”. Afinal, ninguém descobriu até hoje como acertar os 3% de uma só vez.

Inovação

 

Muitas empresas não crescem porque seus gestores querem ser infalíveis. Só aceitam implementar algo novo – isto é, jogar as sementes – quando estão convictos de que o sucesso é inevitável. O que eles ignoram é que, assim que essa hora chega – e leva tempo para isso –, os concorrentes também conhecem as respostas. Avançam num momento em que já não é possível beber água limpa.

Um dos mantras de quem trabalha no Vale do Silício é o “Se tiver que errar, erre rápido”. Ou seja, aprenda logo o que precisa a fim de chegar aonde você quer. As pessoas pouco sábias preferem agir apenas quando já sabem o que fazer e suas mentes estão confortáveis pela certeza de que não haverá nenhuma perda ao longo do caminho.

O que hoje diferencia uma empresa de sucesso das demais concorrentes é a capacidade de inovação. A competência de oferecer aos seus clientes algo novo, que eles valorizem e antes que os demais players façam a mesma coisa. O problema é que isso não é possível sem sair da zona de conforto e se abrir a tentativas malsucedidas. Como já dizia Bernard Shaw: “Qualquer progresso depende do homem insensato”.

Arrisque sem medo

Quando se trata de processos, defender a eliminação de desperdícios é uma decisão coerente. No entanto, tem muita gente importando o mesmo conceito para áreas como desenvolvimento de produtos e marketing, em que decisões claramente insensatas – que demandam tempo, dinheiro e outros recursos, sem certeza de retorno – é que garantirão um futuro promissor.

Imagino que a vida inteira você tenha escutado pessoas exigindo que fosse racional. O que estou lembrando hoje é aquilo que Paul Lemberg diz em Seja insensato (Ed. Best Seller): “Muitas vezes, as ideias mais transformadoras surgem de forma espontânea e natural. Depois, os pensamentos racionais acabam com elas. Não deixe isso acontecer”.

Podemos tomar, por exemplo, as indústrias que atuam no ramo farmacêutico. Anualmente, elas investem milhões e milhões de dólares em pesquisas nas mais variadas áreas. Aos olhos de muitos, um desperdício enorme. No entanto, quando um laboratório faz grande descoberta e produz um medicamente revolucionário, o retorno financeiro desse produto é tão grande que paga os investimentos feitos em todos os projetos fracassados e ainda financia os próximos.

Talvez possa parecer clichê tomar mais uma vez o exemplo de Thomas Edison, mas quando perguntaram como ele se sentia após ter fracassado milhares de vezes antes de fazer a primeira lâmpada incandescente funcionar, sua resposta foi brilhante: “Não fracassei, apenas descobri 10 mil maneiras de não fazê-la funcionar”. O fundador da GE já sabia que é preciso ter uma certa dose de insensatez quando se quer ir longe.

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