O drama vivido pela ginasta norte-americana Simone Biles na Olimpíada de Tóquio despertou a atenção do mundo para um assunto que também precisa ser debatido com maior atenção em nossas organizações: como a saúde mental pode ser afetada diante da pressão por um bom desempenho.
Neste caso em particular, muita gente tem ponderado: “Mas ela já é uma atleta excepcional e multicampeã olímpica”. Ok, porém a pandemia tornou tudo mais complicado também para aqueles que atuam nesse nível.
Recorde o contexto. Os atletas não conseguiram treinar adequadamente no último ano e meio. Viajaram para Tóquio com o risco iminente de não competirem caso testassem positivo para o novo coronavírus no período dos Jogos. Além disso, ficaram praticamente “presos” na Vila Olímpica se protegendo do risco de contágio entre os atletas. Nem mesmo os familiares e amigos que geralmente os acompanham estavam próximos.
No caso de Biles, ainda existe um outro elemento: ela era tida como a estrela maior entre os 11.300 atletas competidores. Não havia um Usain Bolt ou Michael Phelps para dividir a atenção. Todos os holofotes estavam virados para ela.
Em nosso trabalho a coisa não é diferente. Muitas pessoas baixam o desempenho – e até surtam – quando pressionadas em demasia e isso não é algo inédito ou surpreendente. O que a ginasta norte-americana nos ensinou é que o problema também afeta atletas fora-de-série (e, consequentemente, profissionais de alta performance).
Talvez você esteja raciocinando: “Mas, se a gente for levar a discussão para esse lado, agora é que a geração mimimi vai se vitimizar de verdade”. Pode ser, no entanto não devemos ignorar que as pessoas reagem à pressão de forma bem diferente. E o que mais tivemos desde março de 2020 foi exatamente isso: muita pressão acumulada para lidar.
Apesar de o tema Inteligência Emocional receber cada vez mais atenção, precisamos aprofundar o diálogo. Chegou a hora de prepararmos os líderes, por exemplo, para identificar quando alguém da sua equipe está passando por algum tipo de sofrimento psíquico e saber apoiar esse colaborador.
Algumas pessoas foram talhadas para enfrentar os desafios e tudo o mais com “casca grossa”. Sob o lema “missão dada, missão cumprida”, passam por cima de todos os obstáculos. Porém, até mesmo essas pessoas suportam o estresse somente até um certo limite.
Em contrapartida, existem colaboradores em seu time com um grau maior de sensibilidade. Eles têm baixa tolerância ao estresse prolongado, mesmo quando se esforçam para ser resilientes.
Precisamos aprender a lidar com o estresse e a ansiedade sim. Porém, saber identificar sinais de depressão, angústia permanente ou esgotamento mental são tão importantes quanto.
O que Simone Biles nos deixa de lição é que não podemos colocar nossas conquistas e glórias na frente da nossa saúde. De nada vale chegar ao topo de pódio quando o preço é arriscar a própria vida!
Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Líder tático” e “O gerente intermediário”, ambos publicados pela Ed. Qualitymark.