A imensa maioria das empresas já voltou à rotina normal depois dos meses de restrições sanitárias por conta do novo coronavírus. Porém, algumas companhias têm enfrentado um novo desafio: parte dos seus colaboradores não querem mais trabalhar presencialmente, mesmo que apenas alguns dias da semana.
Ao conversar sobre esse assunto com um experiente executivo da área de RH duas semanas atrás, ele bem lembrou: “As pessoas precisam ter em mente que seu trabalho não se resume apenas a cumprir tarefas. É muito mais do que entregar as quatro ou cinco coisas combinadas com o chefe e que podem ser feitas de qualquer lugar”.
Quando a empresa adota o modelo híbrido, por exemplo, no qual você fica alguns dias em casa e outros no escritório, a preocupação não é vigiá-lo a ponto de garantir que você cumprirá suas obrigações. Se ela quisesse controlá-lo de verdade, poderia fazê-lo de qualquer lugar.
O que a organização busca é mantê-lo conectado à cultura e às pessoas com as quais precisa se relacionar. E, por mais incrível que pareça, até mesmo possibilitar que você participe de reuniões confusas, converse despretensiosamente durante o cafezinho com pessoas que raramente vê etc. Afinal de contas, isso também é parte do trabalho.
No momento em que a pandemia levou quase todo mundo para dentro de casa e ainda não entendíamos direito o que estava acontecendo – e, especialmente, o que viria depois –, foi normal focarmos o tempo de trabalho naquilo que era crucial para manter a operação em funcionamento.
Agora chegou o momento de retomar aquela parcela do trabalho que a pandemia “poupou” de você. Como é o caso das sessões de happy-hour, das reuniões presenciais com clientes (que, apesar de menos frequentes, continuarão a ser necessárias) e dos demais eventos externos que você perdeu o costume de participar.
É verdade que o olhar míope, às vezes, vem da própria empresa. Ainda hoje em dia várias delas se negam a promover treinamentos no horário de expediente por enxergarem que o tempo dedicado à capacitação não tem nada a ver com trabalho. Daí todo curso ofertado acontece à noite ou aos sábados. Resultado: as pessoas se sentem punidas pela companhia, em vez de agradecidas.
Concordo que se você deixar de cumprir as tarefas esperadas, as coisas irão de mal a pior. Mas, lembre-se como um mantra: seu trabalho é mais do que ticar uma lista diária de coisas a fazer.
Mesmo que a sua empresa te dê liberdade para ficar todos os dias em casa, fuja do isolamento total. O trabalho remoto permanente vai empurrá-lo a ser um mero tarefeiro se você não conviver um pouco com os demais colegas, pelo menos de vez em quando.
Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Líder tático” e “O gerente intermediário”, ambos publicados pela Ed. Qualitymark.