Nos últimos 90 dias, muitas empresas passaram a ouvir com interesse o que seus colaboradores têm a dizer. Inclusive, aquelas que nunca tinham feito isso. Porém, nem sempre estão conseguindo extrair tudo o que podem dessa relação mais próxima porque as pessoas não têm segurança psicológica para falar o que pensam.
Segurança psicológica é um conceito criado pela professora Amy Edmondson, da Harvard Business School, que remete ao conjunto de práticas e valores que uma companhia adota para manter o clima organizacional sem tensões ou temores exagerados. Tudo aquilo que faz com que as pessoas decidam “arriscar o pescoço” quando assumem riscos moderados, falam o que pensam ou exercitam a sua criatividade.
Esse conceito é válido até mesmo em casa. Na hora em que seu filho quebra alguma coisa, se ele geralmente conta a você sobre o ocorrido, não tenha dúvida de que cultivam uma relação de segurança psicológica. Em contrapartida, se fica sabendo das coisas apenas pelo seu cônjuge, pode ter certeza de que ele não fala as coisas para você por algum motivo.
Promova um ambiente seguro
Nas empresas, a segurança psicológica começou a ser tratada com maior atenção a partir do momento em que foi identificada como um dos fatores críticos para que equipes alcancem a alta performance. Se você quiser saber mais a respeito, é só se informar sobre os resultados do Projeto Aristóteles, conduzido pelo Google em 2012.
O fato é que, as pessoas que guardam temores não se expõem. Deixam de fazer perguntas para não serem mal-interpretadas, evitam compartilhar ideias ou, então, guardam para si preocupações que deveriam receber a atenção de todo mundo.
Proporcionar segurança psicológica não é, portanto, fazer as pessoas acreditarem que trabalham em um parque de diversões ou que não serão cobradas por resultados. É, sim, estimular que se expressem sem grandes temores. Valorizar a transparência e o respeito.
Se você ficou animado em construir algo assim em sua empresa, algumas práticas são importantes:
1) Crie um ambiente onde ninguém foge de conversas difíceis
As pessoas valorizam participar de reuniões marcadas por confrontos e feedbacks duros, apesar do desconforto envolvido. Atacam os problemas e não as pessoas.
2) Não ridicularize nenhuma ideia apresentada
Mesmo que a proposta seja claramente equivocada, agradeça à pessoa e deixe claro que você estará aberto a ouvir outras sugestões. Nem sempre as pessoas apresentam as melhores ideias que elas têm da primeira vez. É um processo que leva tempo.
3) Evite punir quem busca inovar e acaba cometendo erros
Os membros da sua equipe prestam muita atenção em como você trata aqueles que se arriscam a fazer as coisas de uma forma diferente e não são bem-sucedidos. Essas pessoas precisam de encorajamento e não de castigos.
4) Valorize a transparência
Quando uma notícia ruim tiver que ser dada, que as pessoas saibam dela por você – e rápido. É assim que se controla boatos, fofocas, fake news e teorias da conspiração, pelo menos em sua companhia.
Em tempos de crise, oferecer o mínimo de segurança às pessoas é algo que está na agenda diária dos bons líderes.
Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Líder tático” e “O gerente intermediário”, ambos publicados pela Ed. Qualitymark.