Encontrar pessoas que trabalham há muito tempo numa mesma empresa não é algo simples hoje em dia. Porém, creio que você conhece alguém cuja identidade até se confunde com o local de trabalho dele. São tantos anos por lá que todos o chamam de “Pedro da Lavanderia”, ignorando o sobrenome de batismo.
Ainda assim, naquelas cerimônias em que as companhias costumam reconhecer seus principais colaboradores, premiar a antiguidade continua sendo um ritual comum. Só um detalhe: se antes elas convidavam ao palco apenas quem tinha pelo menos duas décadas de trabalho ininterrupto, nesse ano participei de um evento no qual profissionais com 5 anos já receberam seu troféu.
Outra grande mudança é que, se construir a carreira numa única empresa era sinal de competência e lealdade; hoje, algumas pessoas chegam a ser tachadas de acomodadas quando permanecem bastante tempo num só lugar. Um preconceito que não deveria existir. Lido com profissionais muito competentes que, apesar de terem escolhido ficar a vida toda no mesmo emprego, são grandes gestores de mudanças.
Um deles, em especial, trabalhou em 15 unidades e setores de uma indústria em seus 35 anos por lá. E posso afirmar com segurança que tem o tipo de experiência que muitas empresas atualmente buscam no mercado. O problema é que os recrutadores não pensam assim.
Caso você esteja em dúvida se deve permanecer ou não em sua empresa – e isso não acontece somente com você, já que 79% dos brasileiros se dizem abertos para ouvir uma proposta de outra companhia -, antes de tomar uma decisão, avalie os quatro pontos abaixo.
1) Você ainda enxerga novos desafios a serem superados?
Talvez a “vida útil” dentro do departamento no qual trabalha já esteja chegando ao fim, mas você pode se transferir para aquela área ou projeto recém-criado que precisa de pessoas dispostas a fazerem acontecer. Sem novos desafios, é quase certo que irá se acomodar e desanimar.
2) Se você sair hoje, a empresa perde o quê?
Muitas pessoas evitam fazer essa pergunta para si mesmas com medo de não terem uma resposta confortadora. Mas, se essa for a sua realidade, o ciclo realmente pode ter chegado ao fim. Lembre-se: não é porque você foi uma figura central no negócio alguns anos atrás que a empresa vai mantê-lo por gratidão até se aposentar. E, além disso, é mais honroso se despedir do que ser despedido.
3) Se você sair hoje, o que você perde?
Infelizmente, alguns profissionais só começam a pensar a respeito quando a demissão já se consumou ou, ao menos, é inevitável. Por isso, ainda que esteja bastante satisfeito com a empresa aonde trabalha, não deixe de participar de entrevistas de emprego de vez em quando para saber como o mercado o enxerga.
4) Como é a convivência com o seu chefe?
Não esqueço de uma pesquisa conduzida em 2015 pelo Instituto Gallup nos EUA que revelou: 54% das pessoas que pedem demissão o fazem porque não aguentam mais se relacionar com o chefe direto. O fato de querermos ou não continuar trabalhando num lugar tem muito a ver com o tipo de vínculo que mantemos com pessoas que afetam a nossa trajetória por lá.
Não tenha dúvida de que é uma boa decisão ficar na sua empresa se ainda existem perspectivas de crescimento, você sente que faz a diferença por lá, tem bastante a perder se for embora e você ainda trabalha com um líder de verdade. Nos demais casos, é importante refletir.
Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Líder tático” e “O gerente intermediário”, ambos publicados pela Ed. Qualitymark.