Os malefícios do encastelamento

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Alguns gestores vivem presos à sua sala sem saber o que acontece no mundo real.

castle-vetor-590-transparenteUm dos problemas de gestão mais críticos e, surpreendentemente, menos discutidos na atualidade, é o encastelamento de líderes em todos os tipos de empresas. Dirigentes que vivem reclusos à sua sala de trabalho, acreditando que é possível guiar uma companhia, mesmo isolando-se de tudo e de todos.

Encastelar-se é criar um mundo à parte, no qual o líder vive preso ao conforto do escritório e contenta-se por “inspirar” objetos inanimados, como a mesa e as cadeiras que estão à frente dos olhos. Manter uma visão distorcida da realidade por ficar entocado, enquanto as coisas acontecem lá fora.

Mas, por que alguns líderes têm esse tipo de postura? Os motivos variam, dependendo da pessoa.

Por exemplo, temos aqueles que juram ser acessíveis e ainda reclamam que ninguém os procura. “A minha porta está sempre aberta. Qualquer um que precisar pode vir aqui e conversar comigo”. O que eles ignoram é o fato de que os colaboradores não se sentem encorajados a buscar seu apoio, tampouco acreditam no discurso de que são líderes acessíveis. Deixar a porta aberta não é atitude suficiente para parecer disponível, ainda mais se você não tem o hábito de acompanhar o trabalho dos seus liderados ou geralmente os recebe com aquele semblante de quem foi interrompido e não gostou.

Outros líderes que conheço apreciam tanto o trabalho burocrático que não fazem muita questão de lidar com pessoas. Eles se atêm aos problemas formais descritos em relatórios por acreditarem que tudo pode ser resolvido com uma canetada precisa e negligenciando que muitos dos problemas de uma empresa têm a ver com conflitos interpessoais e só podemos compreendê-los quando caminhamos pela empresa e conversamos com as pessoas.

Há aqueles que vivem à moda dos príncipes aprisionados no castelo de cristal. Você até acredita que eles estão sofrendo de solidão e quer ajudá-los a abandonar o isolamento o mais rápido possível, afinal sempre reclamam que não é fácil terem de decidir tudo sozinhos. Mas a verdade é que eles adoram encastelar-se para evitar a chateação de ter de resolver problemas que as pessoas lhes apresentam.

Há também quem sofra do Complexo de Dilma. Gente que acredita que o poder formal é suficiente para se dirigir uma organização, não percebendo que quem acaba por conduzir o barco de verdade são o gerente “Eduardo Cunha”, o coordenador “Renan Calheiros” e o diretor “Michel Temer” da vida real, que nem sempre são bem-intencionados, mas se posicionam.

Temos ainda os dirigentes que se encastelam nas fronteiras da empresa, porém fora de suas salas. Durante um bom tempo, muito se falou sobre a importância de cuidar das coisas que acontecem no “quintal” da companhia, como manter um relacionamento saudável com os colaboradores e se preocupar com os detalhes que rondam o cotidiano da organização.

Só que alguns líderes exageraram na dose e agora investem seu precioso tempo inteiramente nisso. Conversam com as pessoas, são acessíveis de verdade e participam das reuniões de trabalho; no entanto, não pisam o pé fora da companhia para nada. Ficam presos a tarefas que poderiam ser executadas por qualquer outra pessoa e que pouco têm a ver com os requisitos prioritários de quem toca uma empresa.

É o caso daqueles que nunca vão a um congresso do setor, rechaçam participar de uma associação de classe, dificilmente frequentam cursos e vivem falando que não podem sair da empresa. Essas pessoas desconhecem seus clientes, visitaram os fornecedores pela última vez há muito tempo e geralmente mantém ideias antiquadas sobre o macroambiente no qual a sua empresa compete. Falta-lhes, portanto, o frescor da “sola de sapato”; o hábito saudável de acompanhar de perto aquilo que está acontecendo agora e afeta o seu negócio.

Quem se encastelou por conta própria ou nem havia se dado conta de que age assim há um bom tempo, precisa ter em mente que nenhum gestor toma decisões verdadeiramente eficazes quando sua visão de mundo está restrita àquilo que acontece na aldeia em que vive. Quando nos desacomodamos, aceitando “explorar o labirinto”, é que nos tornamos líderes capazes de cumprir o papel que nos cabe.

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