Não sei se você tem percebido, mas em algumas organizações a liderança no topo já não é exercida por apenas uma pessoa. Recentemente, atendi uma empresa na qual há dois presidentes com igual poder de decisão. E esse modelo não é novo por lá: eles trabalham assim há 30 anos.
Na sociedade como um todo existe um movimento que prega o esvaziamento do poder centrado em líderes alfa. Se antes aceitávamos tranquilamente que um dirigente decidisse o futuro de centenas ou milhares de pessoas, hoje esse paradigma já é bastante questionado. Inclusive, nas empresas.
Job sharing
E também vale registrar que a liderança compartilhada já chegou à média gerência por meio do job sharing. Resumidamente, a ideia é essa: duas pessoas ocupam o mesmo cargo – uma gerência de marketing, por exemplo –, mas cada uma delas cumpre metade da carga horária semanal, e em dias ou turnos alternados. Assim, a primeira gerente trabalha de segunda a quarta e a outra de quarta a sexta. E é claro, para que as coisas funcionem – já que se encontram presencialmente uma vez por semana –, a dupla combina um sistema de comunicação e organização do trabalho.
No entanto, liderar uma companhia ou departamento tendo ao lado aquele colega que manda o mesmo que você não é nada fácil, esteja ele o tempo todo do seu lado ou não. Como as sobreposições de papel são muito comuns, se o tipo de personalidade e o estilo de trabalho de vocês for muito diferente, os dois precisam de boa vontade e um senso de interdependência apurado para falarem a mesma língua.
Ou seja, o mais comum é o atropelo mútuo. Um diz uma coisa e o outro desdiz. Pedem coisas urgentes ao mesmo liderado que, sem saber a quem responder primeiro, fica confuso. E quando o stress se instala, para evitar mais dissabores, passam a se falar apenas quando não há outra saída.
Muitas pessoas que defendem a liderança compartilhada lembram que “duas cabeças pensam melhor do que uma”. O problema é que, às vezes, por não saberem direito como cumprir seu papel, a relação entre os líderes fica tão corroída que boa parte do tempo deles é gasto com iniciativas que visam enfraquecer o outro e, como consequência, paralisam a área e/ou a companhia.
Se você já trabalhou em alguma empresa na qual os sócios tinham igual poder e estavam rachados, deve recordar que nada acontecia justamente porque nenhum deles tinha força suficiente para fazer as coisas do jeito que queria, nem estômago para persuadir o outro.
Comuniquem-se
E a outra coisa que deve lembrar é que o conflito entre os líderes também rachou o time. Para se proteger, as pessoas certamente escolheram um dos lados da balança, já não almoçavam com quem “passou para o outro lado” e buscavam formas de mostrar fidelidade à parte eleita contando coisas pouco elogiosas da “turma de lá”. Aliás, quando uma empresa tem muitos fofoqueiros pode saber que seus gestores estão em conflito.
O sucesso da liderança compartilhada depende muito da capacidade de diálogo dos líderes. Quando eles conversam diariamente, compreendem que as diferenças de opinião podem ser superadas, não têm medo de “lavar a roupa suja” de vez em quando e sentem que são mais fortes juntos porque se completam, esse modelo de gestão é o melhor que existe.
Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Líder tático” e “O gerente intermediário”, ambos publicados pela Ed. Qualitymark.