Arrisco-me a dizer que a maior parte das pessoas que ocupam o cargo de gerente não é gerente de verdade. E a causa mais comum do problema costuma ser ignorada: ninguém na empresa sabe exatamente o que envolve o trabalho de um gerente.
A questão é que você pode ter um crachá de gerente, comandar uma equipe de trabalho há anos, cuidar de um importante setor da companhia e, no máximo, exercer um papel de encarregado ou supervisor. Líderes se tornam gerentes quando têm autonomia e responsabilidade de tomar decisões difíceis acerca de recursos limitados. Ou seja, cotidianamente fazem escolhas do tipo “cobertor curto”.
É por isso que costumo dizer que gerente que não tem orçamento para administrar não é gerente. É alguém que se contenta em “ganhar mesada do pai” (neste caso, quase sempre, o superior imediato).
No Evangelho de São Mateus, capítulo 25, versículos de 14 a 30, o escritor bíblico nos conta a Parábola dos Talentos: história do homem rico que teve de viajar e confiou aos seus três principais trabalhadores a fortuna que havia acumulado durante a vida. Nas mãos de um deles depositou cinco talentos (dinheiro da época), o segundo recebeu três e o terceiro ficou com um talento para cuidar.
Aquele que recebeu cinco talentos já saiu para negociá-los e ganhou outros cinco, postura semelhante à de quem estava com dois e ganhou outros dois. Mas o terceiro, com medo de perder seu único talento, optou por escondê-lo debaixo da terra.
Quando o chefe retornou, os três colaboradores foram prestar contas e aqueles que multiplicaram os talentos receberam ainda mais recursos para poderem administrar. Em contrapartida, o terceiro teve de lidar com a fúria do seu superior, ao devolver o mesmo numerário confiado lá atrás.
Muitos líderes agem de forma semelhante ao trabalhador que teve medo. Acreditam que restituindo o que receberam, já cumprem o seu papel. Porém, como o personagem bíblico ensina: “Se era para guardar o talento debaixo da terra, então devia ter levado meu dinheiro ao banco e agora eu pelo menos receberia os juros devidos” (Mt 25,27).
Você perde a chance de evoluir como líder quando adia investimentos estratégicos porque está com medo de errar e ser responsabilizado mais adiante. Ou esquece de promover colaboradores que entregam 120% das metas e ignora a manutenção preventiva de equipamentos-chave só para depois poder dizer ao chefe: “Olha como cuido daquilo que você me confia. Não gasto nada desnecessariamente…”
O que faz de você um gerente de verdade é a capacidade de tomar boas decisões sobre onde vale a pena colocar os recursos finitos que tem em mãos. Sejam eles tempo, dinheiro, equipamentos ou pessoas.
Pense nisso!
Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Líder tático” e “O gerente intermediário”, ambos publicados pela Ed. Qualitymark.