Uma antiga fábula conta que certa vez a mamãe camelo e seu bebê estavam por ali, à toa, quando de repente o filhote disse:
– Mãe, posso te perguntar algumas coisas?
– Claro! O que está te incomodando?
– Por que os camelos têm corcova?
– Bem, meu filhinho, nós somos animais do deserto e precisamos das corcovas para reservar água. Aliás, é por isso mesmo que somos conhecidos por sobreviver sem água.
– Certo. E por que nossas pernas são longas e nossas patas arredondadas?
– Filho, certamente elas são assim para permitir que caminhemos no deserto. Sabe, com essas pernas eu posso me movimentar na areia melhor do que qualquer um! – disse a mãe, toda orgulhosa.
– Certo! Então, por que nossos cílios são tão longos? De vez em quando eles atrapalham minha visão.
– Meu filho, esses cílios longos e grossos são como uma capa protetora. Eles ajudam na proteção dos seus olhos quando atingidos pela areia e pelo vento do deserto, disse a mãe com satisfação.
– Tá. Então a corcova é para armazenar água enquanto cruzamos o deserto, as pernas para caminhar através dele e os cílios são para proteger meus olhos da areia e do vento. Então que diabos estamos fazendo aqui no zoológico?
Todos nós conhecemos histórias de pessoas com um potencial incrível, mas que não utilizam nem um terço daquilo que podem porque seu trabalho não exige o que elas têm de melhor. É o caso de quem fala inglês fluentemente e não faz uso do idioma em seu dia a dia ou, então, daquele profissional que possui inúmeras certificações em Gestão de Projetos e atua em um papel burocrático há anos.
Pesquisas apontam que você poder pôr em prática todos os dias a sua principal competência é o fator que mais favorece um profundo engajamento com o trabalho. Mais até do que a empresa proporcionar boas perspectivas de futuro, um pacote de remuneração acima da média ou aquele clima de trabalho incrível.
O Instituto Gallup publicou os resultados de um estudo com mais de 10 milhões de pessoas em todo o mundo neste sentido. Segundo ele, as chances de você estar ativamente desinteressado no trabalho caem para incríveis 1% se o seu gestor te dá a oportunidade de operar onde estão os seus pontos fortes. Apenas para ciência, quando ele se concentra nas suas fraquezas, o número sobe para 22% e chega a 40% ao simplesmente ignorar aquilo que você faz.
Da mesma forma que o bebê-camelo da fábula acima, você se sentirá no lugar errado se tiver de atuar o tempo todo fora da sua zona de singularidade. E, em contrapartida, ainda que algumas coisas não sejam tão legais assim na empresa, se o seu sentimento é o de que você nasceu para fazer aquilo que faz todos os dias, então este é o lugar certo para você trabalhar.
Como diz uma frase atribuída a Sidarta Gautama (Buda): “Seu propósito na vida é encontrar um propósito e dedicar a ele todo o seu coração e a sua alma”. O bebê-camelo já descobriu o dele, porém ainda falta sair da jaula e cumpri-lo. E você?
Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Líder tático” e “O gerente intermediário”, ambos publicados pela Ed. Qualitymark.