Quem nunca se programou para chegar cedo a um compromisso e perdeu a hora porque encontrou um congestionamento terrível no meio do caminho? É comum sermos surpreendidos por situações aleatórias não previstas que geralmente causam desconforto e irritação. Mas não precisa ser sempre assim.
Diante do caos, algumas pessoas preferem a paralisia, outras mobilizam seus esforços para enfrentar a adversidade e tem gente que simplesmente cresce com o ocorrido. Aliás, é por isso que a imprevisibilidade do mundo atual revela três diferentes tipos de líderes: os frágeis, os resilientes e os antifrágeis.
Os frágeis são aqueles muito sensíveis a qualquer tipo de mudança externa. Enquanto os negócios vão bem, eles sustentam o autocontrole; mas, quando são expostos à desordem, desfalecem e perdem o rumo. Os resilientes têm a capacidade de suportarem a pressão e não sucumbir enquanto a tormenta passa, graças à sua flexibilidade. Já os antifrágeis não apenas resistem às intempéries provocadas pelo contexto VUCA (de volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade), como também aproveitam a instabilidade para crescer.
Um novo conceito
O conceito do líder antifrágil apareceu pela primeira vez em 2012, no livro “Antifrágil: coisas que se beneficiam com o caos” (Ed. Best Business), escrito pelo libanês Nassim Nicholas Taleb. Segundo ele, o principal pesadelo da maioria dos gestores é perceber que o mercado que controlam de repente muda e suas convicções pouco valem dali em diante. Líder antifrágil, portanto, é quem não se amedronta diante do novo; pelo contrário, até aprecia a mudança porque sabe que ela é o motor do seu progresso.
Essa lógica veio romper com o antigo entendimento de que o oposto de fragilidade é a força ou a resistência e que essas são características do líder resiliente. Inclusive, Taleb faz uma comparação: dizer que algo resistente é o oposto de frágil é como afirmar que neutro é o oposto de negativo.
Agir como uma pessoa antifrágil não implica em ser masoquista ou ficar procurando situações caóticas. Tem a ver, sim, com uma percepção positiva acerca dos desafios e a convicção de que o desconforto é a mola propulsora de qualquer amadurecimento significativo na vida.
Progresso diante do caos
Infelizmente, muitos líderes apertam o “botão catástrofe” diariamente. Diante de qualquer chateação, já se abatem. Assemelham-se a vasos de porcelana que, frente ao menor impacto, logo se quebram. E suas equipes percebem isso na hora.
Pode prestar atenção. Líderes antifrágeis adoram promover o progresso quando o caos se estabelece e enquanto a maior parte dos profissionais comuns instintivamente procura abrigo para se proteger. Eles não temem o erro, as incertezas e alguns desgostos pontuais.
Como bem lembra Taleb, fala-se muito sobre o estresse pós-traumático, mas poucos comentam acerca do amadurecimento de quem enfrenta um trauma. Os garotos tailandeses que ficaram na caverna durante aqueles 18 intermináveis dias, possivelmente saíram de lá com algumas sequelas emocionais e boa parte delas favorecerá – em vez de prejudicar – o tipo de vida que eles terão daqui em diante. Sim! Quem enfrenta uma situação-limite dessa natureza tende a enxergar a maior parte dos problemas como tempestade em copo d’água.
Cada vez mais iremos nos deparar com situações aleatórias que trarão desordem e angústias. A questão é que o faremos com elas: iremos quebrar como um vaso de porcelana, resistir aos fortes ventos como um bambu chinês que não sai do lugar ou nos fortalecer como o sistema imunológico do corpo humano, que evolui ao lidar com diferentes vírus ou bactérias?
Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Líder tático” e “O gerente intermediário”, ambos publicados pela Ed. Qualitymark.