O difícil papel de quem precisa dar um choque de gestão

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Com a eleição presidencial definida, muita gente está temerosa em relação ao futuro do país, pois a chegada de Jair Bolsonaro ao poder parece indicar o início de grandes mudanças. Isso me lembra o que também ocorre em algumas empresas, quando um choque de gestão é inevitável.

Pense na seguinte hipótese: a sua companhia tira a estratégia do papel, mas ela é ineficaz. Muitos dos colaboradores estão desanimados. Os concorrentes conquistam fatias do mercado, enquanto as perdas financeiras da sua empresa aumentam a cada dia. E, principalmente, os gestores atuais – incluindo você – parecem incapazes de mudar o quadro no curto prazo.

Quando Steve Jobs reassumiu o papel de CEO da Apple em 1997, ele tinha apenas 100 dias para mostrar ao mercado que a empresa estava mudando ou a incrível desvalorização das ações da empresa culminaria na falência dela. Para isso, tomou decisões bastante duras logo de cara, como a demissão de cinco mil funcionários e a diminuição de 75% do portfólio de computadores (apenas quatro produtos continuaram a ser comercializados).

Hoje, a empresa é uma das marcas mais valiosas do mundo, seus PC’s, notebooks, tablets e smartphones são desejados em todos os continentes e ela parece estar preparada para enfrentar os desafios futuros, apesar de Jobs não estar por perto há anos.

Medidas duras

Qualquer organização à beira do precipício só muda seu rumo com medidas duras, cortando na própria carne. Tive a oportunidade de atuar em projetos nos quais ações paliativas até poderiam ter sido suficientes em algum momento, mas como não foram adotadas por quem a liderou no passado, o que nos restava a fazer era igual a uma Benzetacil – provocava dor, mas a ação era rápida e eficaz.

Choques de gestão desagradam a muita gente porque provocam a perda de privilégios e, quase sempre, exigem a saída de pessoas que representam o velho jeito de agir. Pior: nessas horas, o simples fato de ser próximo de um antigo diretor recém-desligado pode ser suficiente para também o mandarem embora. Quem chega para mudar uma companhia em meio a caos entende que precisa fazer o novo com gente nova.

Aliás, as empresas geralmente contratam executivos de fora como agentes de mudança por eles não terem ligação emocional com a organização ou as pessoas que lá trabalham. A ideia é que tomem as decisões necessárias com relativo distanciamento (isto é, façam o que precisa ser feito – e pronto). O problema é que, ao lidarem com todo tipo de questão sob um viés puramente racional, alguns deles ignoram os valores da companhia ou mexem aonde não deveriam. Por vezes, aquilo que já é ruim, piora.

Senso de urgência

Além disso, como vimos na história de recuperação da Apple, é importante que esse gestor tenha senso de urgência. Se medidas duras são implantadas, mas a empresa continua igual depois de algum tempo, as insatisfações tomam corpo e a competência do executivo forasteiro começa a ser colocada em xeque. É preciso obter resultados animadores no início do novo jogo.

Se você sente que a sua empresa também está precisando de um choque de gestão e você não é a melhor pessoa para conduzi-lo, é uma excelente ideia deixar esse papel para outra pessoa sim. Contudo, na hora de escolher o profissional, procure se certificar de quão competente ele é. Em que condições estão as empresas que dirigiu até então? O que as pessoas que permaneceram dizem sobre a passagem dele por lá? Seus acionistas o contratariam novamente, caso fosse necessário?

Como muitas companhias, o país também clama por um choque de gestão que possa nos levar a um novo patamar e a maior parte da população votou em Jair Bolsonaro acreditando que ele é o homem ideal para cumprir essa missão. Tomara que o novo presidente consiga exercer esse papel, ainda que a história dele não revele qualquer tipo de experiência executiva próxima àquilo que será desafiado a fazer de agora em diante.

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