O tema liderança ganhou tanta atenção ao longo das últimas três décadas a ponto de quase ninguém mais ousar discutir a importância de contarmos com bons líderes nas empresas, na política e no âmbito familiar. Contudo, pouco ainda se fala a respeito do papel dos seguidores e sua importância.
Há alguns anos, por exemplo, a montadora Audi fez uma campanha publicitária no mundo todo que tinha como slogan: “Nunca siga”. Reforço àquele conceito típico de que seguidor é quem escolheu para si o papel da ovelhinha mansa que diz “sim, senhor” para tudo aquilo que vem de cima e está disposto a ser imolado quando alguém precisar pagar o pato na hora em que as coisas derem errado.
Contudo, numa sociedade que prega relações cada vez mais igualitárias, a “seguidança” – uma tradução aproximada do inglês followership – também passou a ser exigente. Ou você pensa que é fácil pôr de lado as próprias metas e renunciar à autonomia individual para realizar aquilo que um terceiro definiu?
Motivos para seguir
Alguns estudos recentes revelam que três motivos principais têm feito muitas pessoas escolherem ser seguidoras:
– Busca pela sobrevivência. Para quem percebe que os holofotes voltados para si também trarão possíveis danos, fazer parte da multidão é uma estratégia atrativa, ainda que a pessoa tenha potencial de liderança. Como disse um amigo tempos atrás: “Vou ficar quieto pelos próximos meses, pois preciso descansar a minha imagem ou vão me demitir”. Visite uma empresa que está passando por cortes de pessoal e você perceberá isso na mesma hora.
– Não ter a resposta certa. Quando as pessoas estão confusas em relação ao que pensar ou fazer, seguir alguém é muito atrativo. Parece mais seguro copiar os outros do que fazer tudo sozinho. E esse é um dos motivos que fazem com que empresas paguem fortunas para celebridades estrelarem suas campanhas publicitárias. Na dúvida entre comprar o produto de uma marca ou de outra, muita gente segue a recomendação feita por seu artista predileto.
– Ambição de liderar no futuro. Para quem quer aprender a liderar, uma das melhores formas é acompanhar de perto o trabalho de quem ele admira. Ou seja, muitas pessoas acabam se tornando seguidoras justamente para observar e aprender as competências que são necessárias para depois conduzir pessoas e estar à frente das coisas. Aceitam o papel de aprendizes hoje para que amanhã também possam liderar.
Crie bons seguidores em sua empresa
Mas o que você precisa guardar nesse momento é que não existem líderes sem seguidores. Quando os liderados deixam de cumprir o trabalho que lhes cabe – seja qual for o motivo –, o líder também costuma perder o foco e os resultados almejados não vêm.
As empresas costumam investir muitos recursos no desenvolvimento de líderes e elas estão certíssimas ao fazer isso. No entanto, também é preciso desenvolver a capacidade de seus funcionários serem bons seguidores. Como diz um conhecido ditado: “Maus soldados nunca serão bons generais”.
Ao mesmo tempo, temos de parar de recriminar aqueles colaboradores que não querem para si uma carreira de gestão. Eles já fizeram as suas escolhas e podem ter um papel técnico e operacional extremamente valioso na escalada da empresa rumo ao sucesso. Mais ainda: precisamos criar condições para que eles se sintam satisfeitos com o trabalho que realizam ou certamente os perderemos para a concorrência.
Saber a hora de contestar uma orientação que vem de cima e o momento em que simplesmente é preciso executar uma ordem não é uma coisa que se aprende de uma hora para a outra. Contudo, torna-se mais difícil ainda desenvolver o necessário pensamento crítico e ser proativo quando a companhia não estimula as pessoas a se expressarem ou esquece de valorizá-las apenas porque entendem que “quem não quer ser gerente por aqui, então não quer crescer”.
Bons seguidores não costumam suscitar grande admiração do alto staff, mas geralmente fazem parte daquele silencioso grupo de colaboradores que sustentam a companhia nos bons e nos maus momentos da sua história, quando bem conduzidos por seus líderes.
Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Líder tático” e “O gerente intermediário”, ambos publicados pela Ed. Qualitymark.