A incoerência é um grande mal na vida de qualquer líder porque as pessoas esperam que você seja, antes de qualquer coisa, um bom modelo de integridade. Aquela velha história do “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço” é um verdadeiro tiro no pé.
Os biógrafos de Mahatma Gandhi contam uma passagem muito interessante a respeito. Certa vez, uma mulher se aproximou dele com uma criança pedindo: “Gandhi, por favor, diga ao meu filho que não coma tanto açúcar. Já tentei de tudo e ele não me ouve”. Após escutá-la, o líder pacifista solicitou que a mulher o procurasse novamente uma semana depois, levando consigo a criança.
Na data e local combinados, mãe e filho caminharam vários quilômetros ao encontro do mestre e aguardaram pacientemente o momento de serem atendidos. Quando Gandhi se aproximou deles, demonstrou reconhecê-los e foi logo dizendo: “Muito bem, garoto. Você deve comer menos açúcar porque ele faz mal para a sua saúde. Você aceita mudar este hábito ruim a partir de hoje?”
Porém, a conversa foi interrompida bruscamente pela mãe: “Mahatma, desculpe-me a franqueza, mas se fosse para ouvi-lo falar isso eu não teria vindo, pois já é aquilo que eu digo ao meu filho todos os dias. Além do mais, o senhor também poderia tê-lo dito quando nos encontramos pela primeira vez”.
No entanto, discordando da mãe, ele ponderou: “Compreendo a sua decepção, mas até a semana passada eu também comia muito açúcar”.
Como Gandhi nos ensina, uma vida coerente é o melhor caminho quando queremos ser confiáveis a ponto de influenciar qualquer pessoa – inclusive, as crianças. Aliás, é por isso que elas nos cobram quando veem que fazemos algo errado, como atravessar um sinal vermelho no trânsito, por exemplo.
Até mesmo nas penitenciárias existe um “código de leis” criado pelos detentos e que seus líderes informais procuram seguir à risca para não ser vistos como incoerentes. Eles sabem que qualquer contrassenso pode custar o poder que têm lá dentro e – por que não? – a própria vida.
É claro que você comete deslizes de vez em quando, pois a imperfeição é uma marca de todo ser humano. Porém, cuidado: líderes costumam se revelar incoerentes muito mais nas pequenas transgressões diárias do que praticando erros absurdos.
E como agora existem smartphones prontos para captar qualquer mancada que você acabe dando, não é mais possível “posar de coerente”, mesmo sendo um engodo. Em algum momento você será pego em flagrante.
Em contrapartida, não confunda coerência com o péssimo hábito de cultivar a mesmice, a intransigência ou a rigidez. Você pode – e deve – atualizar suas ideias, crenças e pontos de vista. O que não dá é você tentar sustentar um discurso desconectado com a prática.
Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Líder tático” e “O gerente intermediário”, ambos publicados pela Ed. Qualitymark.
