Inúmeras empresas têm aquilo que podemos chamar de “Gestão por Pressupostos”. A prática de comunicar apenas o que consideram imprescindível às pessoas, achando que elas já sabem ou, ao menos, deveriam saber o restante das coisas que impactam sua performance. A rotina de negligenciar o “óbvio” que ontem, hoje e amanhã explica falhas absurdas que acontecem na rotina de trabalho dos seus colaboradores.
Na Gestão por Pressupostos os erros acontecem, portanto, porque as coisas simples não são ditas. Todo mundo espera que os demais tenham ciência e quem possui questionamentos, por medo de se mostrar incompetente (pecado mortal irreparável neste lugar), habitualmente se cala, tenta descobrir a resposta sozinho e conta com a sorte de ninguém lhe fazer perguntas embaraçosas.
Grande parte desse problema é provocado pelo alto staff. Presidentes, diretores e gerentes gerais reforçam a Gestão por Pressupostos como ninguém. O motivo é que nos cargos estratégicos as pessoas têm a oportunidade de adquirir um olhar sistêmico que as faz perceber aquilo que os pobres mortais da operação não conseguem abstrair. É por isso que seu diretor costuma flagrá-lo fazendo coisas erradas sempre que visita a área. Ou ainda o desconcerta na frente de todo mundo quando faz duas perguntas que jamais imaginou fazer para si próprio e o leva a refletir: “Por que eu não pensei nisso antes?”.
Profissionais que ocupam posições estratégicas “acham” que todo mundo vê o mundo como eles veem por pressuporem que, aquilo que levaram anos para adquirir, o estagiário de hoje “deveria ter aprendido na faculdade”. Ignoram que desenvolver habilidades conceituais não é simples para ninguém e, pior, esquecem que também não foi fácil nem para eles mesmos.
A Gestão por Pressupostos também é encontrada em sua empresa quando você percebe que muitos colaboradores acreditam que serão promovidos, se veem como merecedores de um aumento de salário e você, por outro lado, está prestes a demiti-los por mau desempenho.
É claro que não podemos negligenciar o fato de que algumas pessoas se escondem atrás de pressupostos equivocados apenas para fugir de suas responsabilidades. “Mas eu não pensei que era para terminar a tarefa até seu retorno de viagem. Por isso é que não concluí o relatório”. Se você não estiver atento a este tipo de subterfúgio, vai acabar aceitando ser ludibriado pelos espertinhos de plantão.
Para a sua empresa extirpar a Gestão por Pressupostos da cultura corporativa, é só seguir algumas práticas que realmente funcionam. São elas:
1) Crie um ambiente no qual as pessoas se sintam encorajadas a levantarem suas dúvidas e inseguranças. Assim, em vez de errar, farão as perguntas que precisam ser feitas.
2) Na hora de se comunicar, pratique a redundância. Se você sabe explicar algo de duas ou três formas diferentes, então utilize seu repertório com gosto. É comum que as pessoas compreendam algumas coisas que você diz apenas na segunda ou terceira ocasião em que fala a respeito para elas.
3) Em vez de perguntar aos colaboradores se eles entenderam aquilo que você acabou de dizer, peça para que relatem o que compreenderam em detalhes. Algo do tipo: “Já que você entendeu, diga-me então o que tem exatamente de fazer”.
4) Estabeleça metas claras. Quando os padrões de desempenho são expressos de um modo que não restam dúvidas sobre aquilo que foi combinado, fica bastante difícil alguém se valer de pressupostos equivocados.
Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Líder tático” e “O gerente intermediário”, ambos publicados pela Ed. Qualitymark.
