Sobre os desafios de liderarmos em um contexto de ambiguidade e complexidade, o monge beneditino alemão Anselm Grün ensina: “O desenvolvimento de liderança passa a ser cada vez mais um desenvolvimento da consciência”.
E o que ele quer dizer com isso, afinal de contas?
A nossa evolução como líderes depende – e muito – de reconhecermos e valorizarmos as coisas importantes que hoje ainda ignoramos. Tomarmos ciência daquilo que parece não importar muito ou que nem sabemos existir, mas que faz uma enorme diferença no dia a dia.
Quando o Pietro, meu filho, tinha quatro anos recordo que ele sempre me pedia para contar histórias antes de dormir, igualzinho à maioria das crianças dessa idade. Porém, eu nem sempre demonstrava a melhor atitude na hora, principalmente nas noites que chegava em casa exausto por causa do trabalho.
Isso mudou quando fui assistir à palestra de uma psicopedagoga na escola dele, que explicou como a contação de histórias é importante no desenvolvimento cognitivo da criança e por que este hábito costuma fortalecer o vínculo entre os pais e a criança.
Bem, a partir desse momento uma luz se abriu dentro de mim. Eu já não via mais aquele momento de fim de noite como uma tarefa e sim como a oportunidade de me manter próximo dele e de compartilhar princípios e valores morais importantes. A arte de contar, recontar e até criar histórias adquiriu um outro status na minha mente de pai.
A mesma coisa acontece com a sua capacidade de liderança e gestão. À medida que você expande a consciência sobre comportamentos e práticas que importam e que até pouco tempo atrás não dava atenção, existem grandes chances de que o seu desempenho melhore efetivamente.
Aliás, é isso que explica a profunda transformação de algumas das pessoas que você conhece. Fulano era um líder que exalava toxicidade e hoje é alguém amável e genuinamente preocupado com o bem-estar do time. E Sicrano, que ficou conhecido como sinônimo de desorganização durante anos, agora ensina os liderados a terem uma rotina de trabalho produtiva.
Na linguagem da moda nós podemos dizer que esses líderes “pivotaram o seu comportamento”. Ou, então, resgatando os filósofos gregos, passaram por um processo de metanoia (em tradução literal, mudança essencial de pensamento).
Porém, lembre-se que a expansão da consciência é insuficiente para que você realmente se torne um líder melhor, apesar de podermos considerá-la o primeiro grande passo. Logo depois do arrebatamento que vem com um grande eureka é crucial adotarmos novos comportamentos, pois como lembra o ditado, saber e não fazer é o mesmo que não saber.
Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Líder tático” e “O gerente intermediário”, ambos publicados pela Ed. Qualitymark.