Certo dia, alguns camundongos se reuniram a fim de decidir a melhor maneira de lutarem contra o inimigo comum da redondeza: o gato. Deliberaram horas seguidas, mas nenhum plano parecia ser bom o suficiente. Enfim, um jovem rato pediu a palavra e disse:
“Sabemos que o grande perigo é quando o gato se aproxima tão mansamente que não percebemos sua presença. Proponho que se coloque um guizo no pescoço do gato. Graças ao barulho do guizo, saberemos da aproximação do gato e teremos tempo de fugir”.
Todos aplaudiram a brilhante proposta. Mas um ratinho mais experiente também pediu a palavra na mesma hora e provocou: “Realmente, a ideia é muito boa. Mas quem vai pendurar o guizo no pescoço do gato?”
Como na fábula acima, as organizações também estão repletas de pessoas que se empolgam com boas ideias, mas que nem sempre se dão conta de que o trabalho mais difícil é colocá-las em prática. Aliás, em relação a esse assunto, adoro um mantra do consultor norte-americano John Doerr, que em sua obra-prima Avalie o que Importa (Ed. Alta Books) defende categoricamente: “Ideias são fáceis. Execução é tudo”.
O que está por detrás das palavras de Doerr é um ensinamento precioso: você pode ter uma ideia incrível, mas se não conseguir tirá-la do papel, o valor dela será zero. Em contrapartida, ainda que não tenha uma ideia tão boa assim, se souber executá-la com brilhantismo, os dividendos virão.
Por isso mesmo, é lamentável a postura de alguns profissionais que apresentam propostas de grande potencial e, depois de vê-las aprovadas, se negam a participar do esforço de mudança com justificativas do tipo: “Eu já dei a ideia. Agora outra pessoa fica responsável por implantá-la, pois eu estou cheio de coisas pra fazer”.
A crença que move esses colaboradores – especialmente, quando são líderes – costuma vir do conceito equivocado de que estratégico é quem concebe ideias e focaliza sua energia em tarefas abstratas ou conceituais, enquanto que o trabalho operacional cabe somente a funcionários menos cerebrais.
Ram Charan até lembra nas primeiras páginas da sua obra Execução: “Muitas pessoas consideram a tarefa executiva um detalhe que está abaixo de sua dignidade como líder de uma empresa ou negócio. Isso está errado. É justamente o oposto: é a atividade mais importante de um líder”.
De agora em diante, lembre-se que você só está verdadeiramente comprometido com a mudança quando não se contenta apenas em gerar ideias. Liderar é, acima de tudo, ter a coragem e a competência de “colocar o guizo no pescoço do gato”.
Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Líder tático” e “O gerente intermediário”, ambos publicados pela Ed. Qualitymark.