Se você ocupa um papel de gestão e tem feito um bom trabalho hoje em dia, é bem provável que esteja sendo contatado por alguns headhunters que querem apresentar propostas atrativas para você mudar de ares.
Imagine que depois de uma dessas conversas você ficou tão animado que aceitou a proposta. Afinal de contas, a empresa em questão tem algumas coisas que você não encontra onde está – e provavelmente jamais encontrará.
Quando chega na nova companhia, durante os primeiros dias goza o entusiasmo juvenil que não sentia há algum tempo. Os novos colegas são calorosos, as coisas parecem acontecer de verdade e até o design do escritório lhe atrai. Tudo parece um sonho. É aquilo que o antropólogo canadense Kalervo Oberg chamava de fase da “Lua de Mel”.
Porém, seis meses depois, você é mandado embora e até sente um certo alívio. Fora o mês inicial, este semestre não foi nada do que imaginava. E isso não tem a ver com o fato de trabalhar ao lado de um líder tóxico ou colegas de má índole. Simplesmente não deu fit com a empresa, como a moçada costuma dizer. Não houve encaixe entre você e a cultura da companhia.
Essa história é familiar a muitos executivos. Na hora de analisar uma nova proposta de trabalho, a pessoa focaliza o pacote de remuneração e as atividades críticas do cargo, esquecendo de examinar a fundo qual é o jeitão da empresa.
Talvez seu sucesso atual se deva ao fato de que você tem muita autonomia para fazer as coisas do seu jeito, sem ter de prestar contas ao superior direto a cada passo que dá. E você precisa ter consciência de que esse é um fator crítico para a sua alta performance.
Se a empresa para a qual você está pensando em ir tem uma cultura hierárquica, por exemplo, você se verá diante de uma série de regras e procedimentos que limitarão o impacto do seu trabalho. Aliás, não é difícil que o seu novo chefe queira microgerenciá-lo logo de cara.
O inverso também será desafiador. Hoje você talvez esteja em um lugar com políticas, processos e uma estrutura tão ajustadas que é fácil saber onde focar a energia no dia a dia. Se for para uma empresa com perfil adhocrático (parecida com o Google), a liberdade para fazer as coisas do jeito que quer vai confundi-lo, soando mais como um ambiente caótico ou anárquico.
Lembre-se: é preciso que as suas crenças e valores pessoais deem match com as crenças e valores da companhia. Aliás, sem isso, dificilmente você sentirá que está no lugar certo.
Tá bom que talvez você queira experimentar algo diferente de tudo o que vivenciou até o momento e, para isso, saiba que é preciso sair da zona de conforto. Porém, não se iluda: essa nova parceria vai exigir que você faça uma série de concessões. E isso vale, inclusive, se você for o novo CEO.
A cultura não se dobra a alguém simplesmente porque ele ou ela possui boas intenções.
Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Líder tático” e “O gerente intermediário”, ambos publicados pela Ed. Qualitymark.