O russo Sawielly Tartakower nasceu em 1887 e foi um dos maiores enxadristas da década de 1920, serviu na II Guerra Mundial como soldado do exército francês – recebendo importantes comendas devido aos seus atos de heroísmo – e ainda se notabilizou como um respeitado jornalista ao longo da vida.
Certa vez lhe perguntaram qual a diferença entre tática e estratégia e a sua resposta foi: “Tática é saber o que fazer quando há o que fazer; estratégia é saber o que fazer quando não há nada a fazer”.
A mesma dúvida ainda paira hoje em dia nas empresas, quando gestores dizem que tomaram decisões estratégicas e na verdade atuaram de modo tático ou vice-versa. Precisamos esclarecer e delimitar esses conceitos muito bem, pois não se pode colocar em risco o entendimento do duplo papel (tático e estratégico) que cabe a todo aquele que lidera uma organização ou equipe de trabalho.
O termo estratégia se refere ao planejamento coordenado de um conjunto de ações que visam alcançar determinado objetivo de longo prazo. Aquilo que uma empresa faz para atingir sua visão de futuro ou o topo da grande montanha que decidiu alcançar.
Por outro lado, tática tem a ver com qualquer manobra utilizada pela empresa no curto ou médio prazo para aproximar-se do seu principal objetivo futuro planejado ou lidar com contingências que não foram previstas e poderão inviabilizar a estratégia, se não forem enfrentadas com rapidez.
Tomando por base essas duas definições, vale a pena ter em mente que existem algumas diferenças importantes entre elas:
1 – A estratégia tem a ver com o “o que fazer” e a tática com o “como fazer”.
2 – A definição da estratégia exige a capacidade de planejamento, ao passo que a atuação tática depende da competência de execução.
3 – A estratégia está relacionada a objetivos de longo prazo, enquanto que a tática é sempre voltada ao curto ou médio prazo.
4 – A implementação da estratégia exige muitas táticas que se sucedem ordenadamente no tempo.
5 – Uma boa estratégia é aquela composta de inúmeras táticas integradas entre si.
6 – A estratégia exige o foco da organização como um todo e a tática mobiliza o setor que precisa implementá-la.
7 – Nas empresas que replicam o conhecido modelo militar de comando e controle (cultura hierárquica e estrutura rígida e verticalizada), geralmente a estratégia é definida pela alta administração, ao passo que as ações táticas ficam a cargo da média gerência de cada departamento ou unidade corporativa.
8 – Nas empresas da Nova Economia (cultura de empoderamento e estrutura flexível e horizontalizada), a estratégia é construída em comum acordo pela alta administração e os demais líderes das áreas e/ou projetos. Portanto, o papel tático é entendido como missão a ser exercida pelo staff da companhia e todos os demais colaboradores que podem mudar os rumos da organização.
Num exemplo didático, pense que você é o comandante principal de um exército que está em guerra e precisa tomar certa cidade inimiga. Após avaliar as alternativas de enfrentamento, chega à conclusão de que o melhor a fazer é cercá-la a fim de sitiar o exército oponente e impedir que a área seja abastecida com mantimentos pelas próximas semanas. O cenário futuro que vislumbra: com soldados famintos e fragilizados emocionalmente, o inimigo desistirá de lutar ou então estará muito fraco para vencer a sua tropa na hora do ataque planejado. Essa é a descrição da sua estratégia.
Decisão tomada, é momento de implementar uma série de táticas que coloquem a estratégia em curso, como é o caso das manobras de avanço de território, criação de abrigos, suporte psicológico à tropa combatente e a logística de abastecimento de recursos. Na sequência, é hora de executar manobras que criem intrigas no inimigo, favoreçam a sua rendição e/ou garantam a invasão do território sitiado.
Se a estratégia representa os fins desejados, as táticas são os meios que utilizamos para chegar até lá. E não cabe a discussão sobre qual delas é a mais importante e sim o entendimento de que estratégia sem tática não leva a lugar algum, tática sem estratégia é fatal.
Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Líder tático” e “O gerente intermediário”, ambos publicados pela Ed. Qualitymark.