Que o home-office deu certo na maior parte das empresas quase todo mundo já sabe. Que várias companhias aderiram de vez a ele – com ou sem pandemia – idem. Mas existe um efeito colateral nefasto que teremos de tratar daqui em diante: a distância física prolongada vem enfraquecendo demais os vínculos pessoais.
Muita gente costuma dizer que depois do isolamento social forçado passou a falar mais com o chefe, seus colegas de trabalho, fornecedores e clientes. Ótimo! No entanto, ser bastante comunicativo é uma coisa e cultivar vínculos é outra bem diferente. Você pode trocar mensagens e ligações com uma centena de pessoas ao longo do dia, porém isso não significa que esteja próximo delas.
A escritora Brené Brown explica: “A tecnologia tornou-se uma espécie de impostora de vínculos, levando-nos a crer que estamos conectados quando, na verdade, não estamos – pelo menos não do modo que precisamos estar”.
Quer ver um exemplo simples? Dez anos atrás, no dia do seu aniversário, você recebia uma série de ligações telefônicas dos amigos e familiares. Havia calor humano envolvido nessas horas. Mas tudo mudou: agora até mesmo pessoas próximas costumam enviar uma simples e fria mensagem pelo WhatsApp ou redes sociais felicitando a outra – e pronto. Não tem ligação, não tem conversa…
E o problema não é a pandemia. A opção por frágeis conexões em vez de relacionamentos sólidos é algo sobre o qual o sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman – que cunhou o termo “sociedade líquida” – já nos alertava há tempos. O isolamento social forçado só turbinou essa mudança cultural a um nível preocupante.
Nas organizações, os colaboradores vêm respondendo ao enfraquecimento dos vínculos de forma distinta. Tem gente que consegue cumprir seu papel direto de um quarto escuro da casa sem sentir a mínima falta do tête-à-tête. Essas pessoas estão satisfeitas com o trabalho remoto e esperam que as coisas continuem assim.
Em contrapartida, há uma parcela considerável em estado de angústia porque seu contentamento com a empresa vinha do clima agradável e amistoso cultivado com os colegas no dia a dia. Elas sentem muita falta de interagir presencialmente com outras pessoas. Ficar isolado em casa o tempo lhes causa calafrios.
Mas, o que pode ser feito de concreto para fortalecer os vínculos aí na sua companhia, enquanto a vacina não chega? Criem momentos nos quais as pessoas possam conversar sobre coisas que não têm a ver apenas com o trabalho, ainda que a distância. O diálogo aberto é a base de qualquer vínculo.
Você lembra quando, no início da pandemia, algumas companhias criaram happy-hours on-line e uma série de outras ações para que todo mundo simplesmente batesse papo? E que alguns chefes passaram a visitar a casa dos colaboradores para dizer um oi de perto? Bem, o caminho pode ser por aí.
Nossos vínculos estão se tornando precários. É hora de resgatá-los – e logo.
Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Líder tático” e “O gerente intermediário”, ambos publicados pela Ed. Qualitymark.