Nas tradições filosóficas e espirituais ao redor do mundo, encontramos um conceito recorrente: o “caminho do meio”. Essa ideia, presente no budismo, no taoísmo e em outras correntes de pensamento sugere que qualquer tipo de virtude floresce a partir da moderação e do comedimento.
Até Aristóteles já ensinava no século IV a.C.:
A virtude consiste em saber encontrar o meio-termo entre dois extremos”.
Algo difícil, pois não basta combinarmos dois opostos – como é o caso de 50% de preguiça e 50% de vício no trabalho; nem tampouco a escolha de levar uma vida morna ou medíocre.
O caminho do meio é a jornada em direção ao equilíbrio que existe entre os possíveis excessos ou faltas. Por exemplo, entre a indulgência (fazer tudo o que se quer) e a privação (não fazer nada), a virtude reside na moderação; entre a ira e a apatia, está a serenidade; entre o orgulho e a subserviência, encontramos a humildade.
Na busca pelo sucesso profissional, é encontrar o ponto certo entre a ambição e a gratidão, entre a determinação e a flexibilidade. No âmbito dos relacionamentos com os outros, é cultivar a empatia e a compaixão sem perder de vista os próprios limites e necessidades pessoais.
E este conceito se aplica, inclusive, à forma como lidamos com nós mesmos. Afinal, precisamos reconhecer e aceitar nossas limitações, sem cair na armadilha da autocrítica excessiva ou da complacência. Como também buscar o autodesenvolvimento e o crescimento pessoal sem perder de vista o amor-próprio e a aceitação de que somos seres imperfeitos.
Em um mundo cada vez mais polarizado e volátil, o entendimento de que a virtude está justamente no caminho do meio pode nos oferecer um antídoto poderoso contra o extremismo e a divisão. É um convite a transcendermos as dicotomias simplistas e a abraçar a complexidade e as nuances da vida do jeito que ela é. Abraçar a riqueza e a diversidade de perspectivas ao invés de nos fixarmos em visões binárias do mundo.
Consequentemente, percorrer o caminho do meio é um desafio e tanto. Requer autoconhecimento, autodisciplina e constante vigilância sobre nossas ações e intenções. Exige a coragem de resistir às pressões externas e às tentações dos extremos em um mundo onde somos pressionados a, necessariamente, escolher um lado da moeda. Mas, ao fazê-lo, somos recompensados com uma sensação de paz interior, de integridade e de conexão com o mundo ao nosso redor.
Ryan Holiday gosta de lembrar em seus livros: “O aperfeiçoamento pessoal geralmente leva ao sucesso profissional, mas raramente acontece o contrário”. Antes de buscarmos competências ou habilidades, é preciso nos tornarmos seres humanos melhores.
Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Líder tático” e “O gerente intermediário”, ambos publicados pela Ed. Qualitymark.