Muitas pessoas que ocupam posições de liderança comentam comigo que provam de uma sensação de isolamento difícil de ser superada. E, nessas horas, eu costumo lembrá-las de uma frase de Simon Sinek: “A solidão é o preço que muitos líderes pagam pelo privilégio de liderar“.
Mas, de onde vem essa sensação, ainda quando estamos rodeados de dezenas de pessoas?
Algumas vezes, a solidão do líder é resultado da necessidade de se manter uma postura firme e segura em todos os momentos. Enquanto os líderes são encorajados a serem vulneráveis e autênticos, há uma pressão implícita para que transmitam confiança e determinação em qualquer momento. E isso pode criar uma dissonância entre a verdadeira pessoa sentada na cadeira e a imagem pública que se vê obrigada a projetar.
Além disso, a natureza das responsabilidades da liderança pode levar a um afastamento natural dos colegas e subordinados. Enquanto os liderados podem compartilhar ideias e preocupações entre si, o líder muitas vezes se vê distante dessa dinâmica, sem poder falar tudo o que pensa. E o distanciamento se acentua ainda mais quando ele é forçado a tomar decisões impopulares ou a manter a confidencialidade de informações críticas por um tempo prolongado.
A solidão do líder também pode ser aguçada pela falta de uma rede de apoio. Gestores (especialmente os de alto escalão) têm dificuldade de encontrar pessoas com quem possam compartilhar suas preocupações e dilemas de forma aberta e confidencial. Um problema mais delicado ainda se o egocentrismo, a autossuficiência ou a pressão para manter uma fachada de competência desestimulam os necessários gritos de socorro.
Portanto, o “sentimento de estar só” não é uma condição permanente para os líderes. Estratégias como buscar o apoio de um mentor, participar de grupos de apoio compostos por outros líderes ou simplesmente conversar sobre aquilo que o angustia com alguém confiável geralmente são atitudes que ajudam – e muito.
Mais importante ainda é você reconhecer e normalizar seus próprios sentimentos de solidão, entendendo que eles fazem parte do fardo e da responsabilidade que acompanham qualquer papel de liderança. Como ensinava Antoine de Saint-Exupéry:
A solidão é a consequência inevitável de um coração que aspira grandes feitos”.
Ser um líder frequentemente implica tomar decisões difíceis, enfrentar desafios complexos e equilibrar expectativas conflitantes que as pessoas têm sobre nós. Por isso, nessas horas também encare a solidão como uma dádiva. É ela que te faz parar para observar, escutar e refletir de um jeito que jamais faria se você se sentisse permanentemente protegido pela multidão. A solidão também gera oportunidades.
Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Líder tático” e “O gerente intermediário”, ambos publicados pela Ed. Qualitymark.