A importância dos rituais de passagem

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Quando usamos a palavra ritual é comum já lembrarmos das tribos indígenas e suas celebrações marcantes e muitas vezes dolorosas, como ocorre com a Tribo dos Satere-Mawe, que vivem na floresta amazônica brasileira.

Lá, os meninos, para se tornarem homens, têm de colocar as mãos dentro de uma espécie de luva tecida com palha pintada e jenipapo por dez minutos. Detalhe: a luva em questão está cheia de formigas Tocandira – cuja picada chega a ser trinta vezes mais dolorosa que a ferroada de uma abelha – e os jovens chegam a ter convulsões enquanto cumprem o ritual.

Fora das tribos, mas aqui mesmo no Brasil, cultivamos uma série de outros rituais, não tão dolentes, que possuem o mesmo propósito de simbolizar passagens. O aniversário de um ano do bebê, as formaturas da escola, os quinze anos da menina, os dezoito do garotão, o primeiro emprego, o ingresso na faculdade, o casamento, a compra de um bem que represente a sua independência financeira e o cortejo fúnebre, quando a vida termina aqui na terra.

Portanto, durante toda a nossa existência e independentemente do ambiente no qual estamos inseridos, vivemos rodeados por rituais de passagem que marcam o início e/ou término de etapas, conquistas pessoais, perdas e tudo mais que promova a consciência de que estamos em processo de mudança.

Mas por que refletirmos sobre o ato de celebrar passagens? Os rituais cumprem um papel importantíssimo em sua vida por fazê-lo enxergar aonde está evoluindo ou senão alertá-lo de que precisa abrir-se à transformação pessoal. Aliás, é por isto que muitos de nós já escutamos: “Agora você terminou a faculdade. Está esperando o que para arrumar um emprego?”. E lá se vai a vida de estudante bancado pelos pais…

Dentro das organizações, muitos gestores ainda não têm noção de quanto é importante para uma equipe saber exatamente quando um ciclo termina e outro se inicia. Já aqueles que são conscientes acerca disto, nem sempre sabem qual a maneira adequada para simbolizar a mudança que desejam construir. Resultado: o engajamento coletivo não é cultivado e as resistências ao novo surgem de todos os lados.

Se você é líder de uma empresa sempre procure criar momentos simbólicos nos quais as pessoas identifiquem que estão concluindo uma etapa ou iniciando outra. Promova uma palestra, faça um churrasco, modifique o layout do escritório, pule amarelinha; enfim, certifique-se de que a sua mensagem comunica a certeza de estarem em processo de transição.

Contudo, não basta celebrar as coisas boas, também precisamos criar rituais de passagem para encerrar de uma vez por todas aquela fase ruim que parece durar uma eternidade. Como ocorre com alguém que supera o processo de luto de um ente querido que se foi, algumas equipes de trabalho precisam dar fim às lamúrias para seguir em frente.

De vez em quando atendo empresas nas quais as pessoas ainda se ressentem de algo que aconteceu muitos anos atrás. Continuam escravas de insucessos profissionais ou de relacionamentos conflituosos por causa de mágoas antigas cujo ciclo ainda precisa ser fechado. Gente que anseia encontrar alguém que lhes diga: “Acabou. Bola pra frente! Chega de falar disto!”

Doloroso ou não, o processo de transição precisa ocorrer de tempos em tempos se queremos nos tornar profissionais melhores ou erguer empresas duradouras. Mas não pense que isto será possível se você tem orgulho de papagaiar todo dia “lá no meu tempo…” ou afirma categoricamente “isto nunca vai funcionar por aqui”.

Se as pessoas que trabalham em sua organização são muito resistentes às mudanças é bem provável que elas careçam de sinais que demonstrem a intenção real de ruptura. É claro que vocês não precisam implantar o extremo daquilo que a tribo dos Satere-Mawe faz com os garotos, mas seguramente é necessário criar ritos que revelem a todos que os velhos tempos se foram e os novos chegaram.

 

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