Ao completar 12 anos de encarceramento (no total foram 27), quando vivia nas duras condições da Ilha Robben, Nelson Mandela tomou uma decisão estratégica que não só transformou a sua própria trajetória como também redesenhou o futuro da África do Sul: ele começou a estudar a língua africâner por conta própria.
Mandela compreendeu que dominar a língua dos seus carcereiros seria uma ferramenta poderosa de persuasão e negociação. Em um ambiente onde era visto como inimigo, a capacidade de falar africâner permitiria que ele construísse pontes e se humanizasse aos olhos daqueles que o mantinham preso. Portanto, a decisão de aprender o idioma dos opressores, mais do que uma questão de sobrevivência, foi uma estratégia deliberada de liderança e diplomacia.
Contando apenas com o apoio de livros e um ouvido aguçado, ele aprendeu a língua ao aproveitar toda e qualquer oportunidade de praticá-la. E foi assim, aos poucos, que seus carcereiros começaram a enxergá-lo de um jeito diferente. Algum tempo depois, já não era visto apenas como um prisioneiro e sim um homem inteligente que respeitava as diferenças culturais.
No mundo corporativo, essa abordagem também pode ser muito eficaz. A capacidade de compreender e comunicar-se na “língua” dos stakeholders — sejam eles clientes, colegas de trabalho ou concorrentes — é fundamental para qualquer pessoa que busca construir confiança e facilitar um bom diálogo.
Quando as negociações para o fim do apartheid finalmente começaram, a fluência de Mandela em africâner foi um ativo inestimável. Ele podia discutir e argumentar em termos que os líderes do governo e militares respeitavam e compreendiam.
O simbolismo da decisão de Mandela também não pode ser subestimado. Ao aprender africâner, ele enviou uma mensagem poderosa de inclusão e respeito. Demonstrou seu compromisso com uma nova África do Sul, onde todas as culturas e línguas seriam valorizadas. Lição inclusiva e empática que serve para líderes em qualquer campo.
Estudar a língua dos colonizadores holandeses ainda teve um impacto profundo na construção de uma nova identidade nacional. A habilidade de Mandela em se comunicar neste idioma ajudou a desarmar muitos dos seus adversários, que começaram a vê-lo como um líder confiável e legítimo. Um aspecto crítico para o sucesso das negociações de paz e a transição pacífica da África do Sul para uma democracia multirracial.
Portanto, Mandela ter aprendido africâner naquele contexto turbulento é um exemplo brilhante de como a estratégia, a empatia e a compreensão cultural podem transformar desafios em oportunidades. Confere ainda mais sentido àquilo que ele mesmo ensinava:
A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”.
Ah, se é…
Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Líder tático” e “O gerente intermediário”, ambos publicados pela Ed. Qualitymark.