A racionalização é um dos principais mecanismos que a nossa mente faz uso para se defender e surge sempre que nos esforçamos para tornar aceitável alguma ideia, ação ou sentimento reprovável (ou enviesado). Isto é, trata da armadilha de justificar, pelo raciocínio, uma situação que provoca mal-estar a fim de nos sentirmos melhor conosco mesmos.
Como é o caso daquele líder que, diante da alta rotatividade de pessoal em sua equipe, prefere achar que todo mundo pede demissão porque não sabe o que quer da vida quando a realidade é que a sua gestão tóxica afasta os colaboradores dele.
Portanto, a racionalização é um instrumento que apoia o autoengano. Os argumentos parecem muito coerentes e lógicos porque existe toda uma teoria fantasiosa que fundamenta a história que a pessoa conta para si e para os outros. Quando racionaliza o indivíduo realmente crê nos motivos que alega, diferente do mentiroso.
É claro que, no curto prazo, racionalizar um comportamento ineficaz diminui a angústia e ainda parece resolver o problema, pois a pessoa coloca a sujeira debaixo do tapete. Porém, além de a poeira continuar no mesmo lugar, a espiral de más escolhas causa novas complicações.
Por exemplo, depois do insucesso em um projeto você culpa alguém que trabalha ao seu lado por um motivo qualquer sem levar em conta o que realmente aconteceu: a sua fala equivocada na reunião de abertura do projeto desmotivou todo mundo antes mesmo que ele começasse. Quem racionaliza nessas horas se mantém míope, cometendo o mesmo erro – e outros até piores – mais adiante.
Quando você acha que o faturamento da sua empresa caiu porque o mercado simplesmente diminuiu de tamanho, é bem provável que esteja racionalizando. E a mesma coisa ocorre com quem diz ter certeza que o ano será difícil por causa do novo governo – seja ele qual for –, apesar de ainda estarmos no primeiro trimestre.
O mesmo padrão também se aplica a outros tipos de comportamento fora do trabalho, como abuso de entorpecentes, jogos de azar e desilusões amorosas. Uma ação inicial racionalizada conduz a um ciclo vicioso fora de controle até que é tarde demais para qualquer esforço de recuperação.
Para evitar ser vítima da armadilha da racionalização, primeiro é importante você reconhecer os comportamentos enviesados que adota. Em segundo lugar, assuma a responsabilidade por suas próprias ações, olhando cada situação frustrante com objetividade e sem se defender ou dar desculpas esfarrapadas.
E, além disso, procure se cercar de pessoas com as quais você possa cultivar uma relação de honestidade brutal, sem filtros. Elas poderão trazê-lo de volta aos trilhos quando a racionalização parecer muito atrativa.
Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Líder tático” e “O gerente intermediário”, ambos publicados pela Ed. Qualitymark.