Certa vez, estava numa conversa animada com gente que havia acabado de conhecer e uma das pessoas comentou: “Ainda bem que daqui há 13 anos e 5 meses eu finalmente estarei aposentado”.
Na hora, atônito, só consegui pensar numa coisa: o que será que o trabalho dela tinha de tão angustiante ou desmotivador para essa pessoa chegar ao ponto de contar regressivamente os 4.900 longos dias que lhe faltavam até o fim da sua trajetória profissional?
Muitas pessoas acreditam que a aposentadoria consiste na troca de uma vida de sofrimento por outra de prazer infinito. Mas, a verdade é que você não precisa dar fim à sua carreira só porque gostaria de ter mais tempo para se dedicar a outras coisas. Aliás, mesmo que tenha por objetivo pescar mais vezes ou viajar pelo mundo, não ficará o restante dos seus dias fazendo só isso.
Mantenha-se ocupado
Conheço profissionais que, por falta de planejamento, adoeceram alguns meses após se aposentarem. O tempo livre surgiu em suas agendas sem que tivessem pensado direito o que fazer com ele. E como o trabalho ocupava uma parte considerável de suas vidas, perderam a identidade pessoal quando se viram sem um serviço rotineiro.
Não estou defendendo a não-aposentadoria. Vários profissionais que conhecemos trabalharam a vida toda em atividades bastante exaustivas fisicamente e, aos 65 anos de idade, estão esgotadas. Mas outras vão se esgotar exatamente por não continuarem se ocupando quando ainda têm lenha para queimar.
É verdade que um grande número de aposentados se mantém ativos a contragosto, porque precisam complementar a renda. Mas é cada vez maior o número daqueles que continuam a trabalhar para terem um motivo que os faça levantar da cama diariamente. O que querem é permanecer física e mentalmente saudáveis, além de socialmente ativos. Nessa fase da vida, o objetivo não deve ser mais ganhar um alto salário e sim fazer algo prazeroso.
Verdadeiros mestres
Na prática, está aumentando o número de aposentados que continuam as suas atividades laborais em jornada reduzida. Trabalham somente durante as manhãs, por exemplo, para poderem fazer outras coisas durante o restante do dia.
As empresas também estão começando a enxergar os profissionais seniores com outros olhos. Se antes os demitiam por causa da dificuldade em lidarem com mudanças, hoje passaram a vê-los como os mentores que seus jovens executivos precisam ter ao lado. O belo filme “Um senhor estagiário”, com Anne Hathaway e Robert De Niro, mostra exatamente isso.
Outra coisa que as companhias têm aprendido é que profissionais sexagenários costumam ser mais estáveis emocionalmente. Como já vivenciaram inúmeras situações, tanto profissionais quanto pessoais, geralmente conseguem encarar os problemas com maturidade. Além, é claro, de serem leais, respeitosos e preocupados em criar um clima agradável de trabalho com os colegas.
Todos precisamos planejar o nosso futuro para não termos a obrigação de trabalhar depois dos 65 anos. E, ao mesmo tempo, lembrar que a aposentadoria não é mais sinônimo de fim de carreira. Décadas atrás, as pessoas morriam mais cedo e fazia sentido encerrar a trajetória profissional para curtir os breves anos de existência que ainda restavam. No entanto, com uma expectativa de vida cada vez maior, é bem provável que você trabalhará ativamente até os 80 anos, se quiser. E isso pode ser muito bom!
Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Líder tático” e “O gerente intermediário”, ambos publicados pela Ed. Qualitymark.