O que nos catapulta a um patamar de destaque em qualquer campo da vida são os nossos pontos fortes. Aquelas áreas de competência nas quais entregamos um trabalho bastante superior, quando comparados à maior parte das outras pessoas.
E se você tem alguma dificuldade de enxergar qual é o seu diferencial no mercado hoje em dia, aí vai uma dica: é só relembrar em que situações os outros costumam elogiá-lo ou que tipo de tarefas você executa muito bem, sem grandes esforços e o mercado valoriza.
Porém, hoje quero lembrá-lo de cuidar também do seu lado sombra. Todos os 16 tipos de personalidade mapeados por Carl Jung apresentam alguns traços que não são tão nobres assim, podem prejudicar a sua carreira e, sabendo disso, você não quer revelá-los a ninguém. O problema é que eles podem aparecer quando menos espera e se tornar o elo fraco da sua corrente.
O médico e o monstro
No livro “O médico e o monstro”, escrito por Robert Louis Stevenson, Dr. Jekyll é um respeitado médico que realiza pesquisas com o objetivo de compreender os impulsos e sentimentos mais profundos do ser humano e acaba criando uma droga que libera seu “lado animal”, adormecido até então sob a capa de um homem irrepreensível. A área de sombra do Dr. Jekyll – chamada de Mr. Hyde, do inglês ocultar – acaba sobrepujando a persona pública que ele levou inúmeros anos para construir.
Da mesma forma, algumas pessoas parecem seguras, equilibradas e dispostas a enfrentar qualquer desafio. Contudo, basta uma mudança inesperada, num dia qualquer, para que logo apertem o botão-catástrofe e comecem a revelar seu lado sombrio a todos que estão por perto. Outros apresentam uma persona tranquila e equilibrada, só que “saem do seu normal” sempre que precisam tratar conflitos que envolvem colegas de trabalho ou clientes.
É costumeiro perguntarmos a candidatos que participam de processos seletivos qual é o ponto mais fraco que eles enxergam em si mesmos. Nessas horas, a ideia é descobrirmos o que está escondido por trás do marketing pessoal e ainda termos ideia de quão conscientes são acerca de suas vulnerabilidades. Mas 90% dos candidatos continuam a dar respostas-clichê do tipo: “Eu sou perfeccionista. Quero fazer as coisas tão bem que às vezes exagero na dose”. Preferem sair pela tangente.
Por isso, quando tenho a satisfação de conversar com alguém que realmente expressa com clareza seus pontos de melhoria e o que está fazendo para saná-los, presto muito atenção nessa pessoa. Eu sei que ela tem algo de bom a oferecer.
Como identificar as sombras
E as suas sombras, você já sabe quais são elas? Para identificá-las com nitidez, fique atento ao modo como age quando está diante de mudanças ou tem de resolver conflitos. É nessas horas que elas geralmente aparecem com força total, deixando com que a máscara caia.
E uma dica muito valiosa: peça feedback às pessoas. Se você não costuma falar com os outros sobre o seu desempenho e perguntar a percepção deles a respeito, certamente está deixando de reconhecer alguns comportamentos que poderiam ser diferentes.
Outro exercício de autoconhecimento fantástico é fazer uma lista das coisas que mais o irrita nos outros. É quase certo que esses pontos sempre estiveram enterrados dentro de você mesmo.
[su_pullquote align=”right”]Algumas pessoas parecem seguras, equilibradas e dispostas a enfrentar qualquer desafio. Mas, basta uma mudança inesperada que começam a revelar o seu lado sombrio.[/su_pullquote]
E lembre-se de que um acompanhamento terapêutico especializado – com um psicólogo ou psiquiatra, por exemplo – às vezes é a melhor coisa a se fazer. No processo de autodescoberta, talvez você não consiga compreender porque se irrita tão facilmente ou fica acuado quando alguém o pressiona. E seu colega bem-intencionado não poderá ajudá-lo nesses momentos.
Quanto mais consciente de suas fragilidades você estiver, menos impacto elas terão em sua vida. Você é um ser humano e com certeza vai dar umas escorregadelas vez ou outra. O importante é reiniciar a caminhada sempre e continuar disposto a trabalhar a sua sombra expondo-a à luz do dia.
Palestrante e consultor empresarial especialista em Formação de Lideranças, Desenvolvimento Gerencial e Gestão Estratégica, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. Mestre em Administração de Empresas, possui MBA em Gestão Estratégica de Pessoas e é autor dos livros “Líder tático” e “O gerente intermediário”, ambos publicados pela Ed. Qualitymark.